domingo, 23 de dezembro de 2012

GOVERNOS NEOLIBERAIS (II - A FONTE DA VIDA NAS FLORES DO CORAÇÃO)


Os governos neoliberais e o bem comum: qual a diferença?

Rousseau, em "El Contrato Social, II, 6", diz-nos:



“O que está bem e em conformidade com a ordem é-o pela natureza das coisas e independentemente das convenções humanas. Toda a justiça provém de Deus, só Ela é sua fonte. Se soubéssemos recebe-la do alto, não teríamos necessidade nem de governos nem de leis. Sem dúvida que existe uma justiça universal, só a razão emana tal justiça, porém para ser admitida entre nós, deve ser recíproca. São necessárias, pois, convenções e leis para unir os direitos aos deveres e encaminhar a justiça ao seu objetivo. Chamo, pois, república a todo Estado regido por leis (seja democracia, aristocracia ou monarquia), porque então somente o interesse público governa e coisa pública algo representa. Todo o governo legítimo é republicano.”
O poder tem nas suas mãos as pontas dos fios que tudo movem. Jürgen Habernas, na sua obra El conocimiento e interés, parte da ideia teórico-prática de que o conhecimento se guia ou está estruturado por algum tipo de interesse.

Habermas não entendia como uma cultura como a alemã, que se tinha formado a partir de uma tradição teórica, que ia desde Immanuel Kant a Karl Marx e cujo perfil doutrinal se baseava na liberdade e na autonomia do homem, tinha caído no nazismo.

É importante ressaltar que Adolf Hitler acedeu ao poder através de eleições democráticas.

Das leis vigentes dependerão invariavelmente os povos, a recompensa e o castigo, de que estes sejam livres ou escravos, de que estejam contentes ou vivam na mais miserável pobreza. Dizia Jean--Jacques Rousseau que não importava muito que os governos fossem democráticos, aristocráticos ou monárquicos, porque o que dá a legitimidade aos governos são as leis que beneficiam a comunidade e que avancem com o bem comum.

Dos totalitarismos temos que desconfiar continuamente e estar alertas.
Um vendedor de ataúdes deseja que as pessoas morram, não porque as odeie, mas porque de outra maneira ninguém compraria ataúdes.

As democracias neoliberais aspiram a perpetuar as ditaduras: ditaduras dos mercados e as multinacionais, deixando fora de jogo os governos e manejando-os como marionetas.

Temos que dizer que cada democracia tem uma cor distinta em função dos poderes que as manejam; muitas vezes, as leis constitucionais ficam em águas turvas, daí se deduz que o cariz que tomam as circunstâncias sociais flutuam em função de vários fatores, tais como: os antecedentes históricos, o nível cultural, os recursos humanos, naturais e tecnológicos, a conduta moral, etc.

Deste modo, podemos assinalar que a criação das constituições não corresponde a um ato negativo, mas estas sim, apresentam deficiências porque omitem uma série de leis que aludem a uma realidade social mais justa e equitativa.

As democracias podem-se classificar com base em factos que aconteceram dentro de um contexto histórico. Nomearei, então, alguns estados democráticos:

Estado espanhol ou democracia franquista 

Depois de quarenta anos de ditadura franquista, a sua queda, por si só, era iminente e a agonia estampava-se até ao mais ínfimo suspiro. Não obstante, no processo de reconciliação nacional que empreenderam ou pactuaram os partidos democráticos e os partidos da esquerda com os políticos franquistas, estes últimos saíram altamente favorecidos. Os democratas e a esquerda que se empenharam em ganhar, pois eram tempos muito favoráveis, perderam a batalha e não instauraram uma democracia verdadeira em Espanha.

Existem muitos pontos negros que obscurecem, em grande parte, o processo de reconciliação: “o que mal começa mal acaba”. A via vermelha eclipsou-se e à via azul calhou-lhe a “sorte grande”, visto se terem eliminado, de repente, todos os crimes realizados pela ditadura.

Até então, estes crimes foram perpetrados a pessoas inocentes que eram arrancadas das suas casas para serem assassinadas, não só durante a guerra (guerra que empreenderam estes militares golpistas, com Franco à cabeça, contra um governo constituído por intermédio das urnas), mas também depois desta, em que houve uma repressão terrível, com assassinatos contínuos.

Convém recordar que os crimes contra a humanidade nunca prescrevem e estes foram crimes.

Ainda que a justiça histórica em Espanha careça de existência, estes crimes não foram resolvidos juridicamente e nenhum partido ou entidade pode silenciar um facto histórico desta natureza.

Desta maneira, o pacto para a reconciliação levava implícito o germe do assassinato, nestas condições, é impossível distinguir a esquerda da direita, visto as duas se situarem ao mesmo nível, estando acima da justiça.

Isto explica que o percurso da democracia espanhola esteja repleto de incidentes: tentativa de golpes de estado, como o 23 F; que a direita espanhola nunca tenha efetuado uma condenação moral dos crimes do franquismo; que qualquer tentativa para recuperar a memória histórica seja rejeitada e silenciada, como no caso do juiz Garzón. Trata--se duma conceção democrática, onde os recursos/meios franquistas se elevam acima da constituição.



Estados Unidos ou democracia beligerante

A essência da democracia dos Estados Unidos desenrola-se, na realidade, sob a forma dos seus atos manifestos, estes atos prestam-se a ser investigados por todo aquele que tenha um mínimo de ética. As ações bélicas e não-beligerantes, como são os bloqueios económicos, não partem dum processo dialético com argumentos razoáveis para ditas ações.

Eles inspiram-se numa visão primária que subjaz nas profundezas da sua psique, só consiste em saber que o meu e o teu são dois e se aos dois somar um outro dá três e uma vez que tenha três, posso ficar com todos os outros. As duas forças primordiais com as quais se conta para roubar o ouro e o mouro são os “troca-tintas” de todos os meios de comunicação do mundo; a outra força primordial é a NATO, a força militar mais poderosa da Terra e que é controlada por todos eles.

Assim, a mãe de todas as democracias, à força, anseia poder ter toda a supremacia existencial, ou seja, a perpetuidade, ainda que deixe muitos povos na mais absoluta ruína.

Convém recordar que tudo o que acontece sob o Sol, o Céu percebe, e que quem semeia ventos, colhe tempestades. Nunca houve na Terra nenhum império eterno, todos eles beberam do cálice da sua obra.

 “Depois um anjo poderoso levantou uma pedra do tamanho de uma mó de moinho e lançou-a ao mar, dizendo: Assim e com o mesmo ímpeto, será lançada Babilónia, a grande cidade! E nunca mais será encontrada.”.
Apocalipse 18:21

A.M.F: EL LEÓN



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